Thaís Sakai, uma brasileira que construiu sua vida no Japão fala um pouco sobre sua rotina e como encontrou na criação de conteúdo uma forma de compartilhar sua rotina e descobertas. Morando em Nagano desde 2021 e trabalhando na indústria de componentes eletrônicos por meio da Fujiarte, Thaís equilibra o dia a dia na fábrica com sua paixão por mostrar o cotidiano da comunidade brasileira e as belezas da região.
Veja como foi a conversa que mistura rotina, trabalho, criação de conteúdo e a experiência de viver em uma das regiões mais frias e belas do Japão.

Poderia começar se apresentando?
Thaís: Meu nome é Thaís Sakai, tenho 38 anos e moro na região de Nagano desde 2021. Trabalho em fábrica, como muitos brasileiros aqui da região.
Você trabalha na fábrica através da Fujiarte, certo? E qual é a sua função?
Thaís: Sim, trabalho em uma fábrica que produz componentes eletrônicos. Minha função envolve operar máquinas e realizar o kensa (inspeção de qualidade).
Como é a sua rotina de trabalho?
Thaís: Minha rotina segue o esquema 4×2, ou seja, trabalho quatro dias e folgo dois, com turnos alternados entre diurno e noturno. Desde que cheguei ao Japão, sempre trabalhei nesse ritmo, então já estou bem adaptada. Sei que para muitos brasileiros essa rotina pode ser cansativa, mas com o tempo a gente acostuma.
Você veio para o Japão em 2021 e já começou na Fujiarte?
Thaís: Na verdade, cheguei ao Japão no início de 2017 e morei em outra região antes de vir para Nagano. Já trabalhava pela Fujiarte em um serviço semelhante, com o mesmo tipo de turno.
Sua família está com você no Japão?
Thaís: Sim, meu marido está aqui comigo. Trabalhamos na mesma fábrica e no mesmo horário desde que chegamos.
Além do trabalho na fábrica, você também cria conteúdos sobre a sua região. Como isso começou e quando virou uma parceria com a Fujiarte?
Thaís: Sempre gostei de acompanhar criadores de conteúdo, principalmente no YouTube. Quando vim para o Japão, assistia muitos vídeos sobre o dia a dia por aqui. No começo, não imaginava que eu mesma criaria conteúdos, mas fui despertando essa vontade de compartilhar o meu ponto de vista sobre a vida no Japão—desde uma simples ida ao mercado até curiosidades sobre produtos locais.
Comecei a postar vídeos espontaneamente, mostrando a minha rotina e a região onde eu morava. Foi algo natural. Um dia, o pessoal do escritório da Fujiarte entrou em contato perguntando se havia alguém que já produzia conteúdo. Assim, conheci o Tamura, que é o resposável da matriz, e comecei a compartilhar vídeos sobre Nagano. Eles gostaram e passaram a repostar no Instagram da Fujiarte. Desde então, essa parceria foi crescendo.
Também tive a oportunidade de participar de uma live com o Johnny Sasaki, o que foi uma experiência incrível!
Foi algo muito orgânico, então? Você já criava os conteúdos antes mesmo da parceria acontecer?
Thaís: Exatamente! Eu já produzia os vídeos porque gostava, sem pensar em transformar isso em algo maior. Quando a Fujiarte entrou em contato, foi apenas um reflexo do que eu já fazia naturalmente.
Você gosta dessa troca com as pessoas através dos seus conteúdos?
Thaís: Sim, mas no começo foi um desafio, porque sou uma pessoa tímida. No entanto, gravar sozinha, só com o celular na mão, me deixou mais confortável. Isso me ajudou a melhorar minha comunicação e me soltar mais. Sei que na internet há espaço para todo tipo de criador de conteúdo, desde os mais extrovertidos até os mais reservados, e acho que muitas pessoas acabam se identificando comigo por isso.
Você veio para o Japão direto pela Fujiarte?
Thaís: Não. Inicialmente, vim por indicação de um primo e entrei em um serviço que não era por empreiteira. Três meses depois, conheci a Fujiarte e consegui um emprego com eles.
Você já tinha algum conhecimento de japonês antes de vir?
Thaís: Tinha um pouco de familiaridade por causa do meu avô, que era japonês. Quando criança, meus pais vieram para o Japão trabalhar, em 1996, e nessa época estudei em escola japonesa. Então, de certa forma, o idioma e os costumes já eram um pouco presentes na minha vida.

Hoje, seu conteúdo está mais focado em Nagano ou você ainda aborda temas gerais sobre o Japão?
Thaís: Atualmente, meus conteúdos estão mais voltados para Nagano. Antes, eu fazia temas mais diversos, mas, ultimamente, tenho priorizado mostrar a região onde moro, até por ser mais viável nas minhas folgas.
Se alguém vier para Nagano, quais são os lugares imperdíveis?
Thaís: Um dos lugares que eu sempre quis conhecer e finalmente visitei foi o Snow Monkey Park. Desde criança, eu via fotos dos macacos nas águas termais nos livros da escola e nunca imaginei que um dia estaria lá vendo isso de perto. É um passeio incrível! Os macacos ficam relaxando na água quentinha, tem filhotinhos… é uma experiência única.
Como você equilibra o trabalho na fábrica, a produção de conteúdo e a vida pessoal?
Thaís: Trabalhando no esquema 4×2, fica difícil dar conta de tudo sozinha. Felizmente, meu marido me ajuda bastante com as tarefas de casa, porque se fosse tudo para uma única pessoa, seria impossível.
Nas minhas folgas, tento encaixar a produção de conteúdo. Os dias mais produtivos são os das semanas em que trabalho de dia, pois consigo descansar melhor e aproveitar melhor o tempo livre para sair, visitar lugares e gravar.
A produção de conteúdo acaba sendo uma consequência da sua vida cotidiana?
Thaís: Exato. Muitas vezes, um simples passeio já vira um conteúdo. Se vejo uma rua bonita, já penso em fotografar ou gravar algo. Tento sempre enxergar possibilidades de conteúdo em tudo ao meu redor.

Como é viver em Nagano?
Thaís: Muita gente tem a impressão de que Nagano é só frio e montanhas, mas é uma região muito boa para se viver. A comunidade brasileira aqui é menor, e isso cria um certo receio em algumas pessoas que pensam em morar aqui. Mas tirando o frio, é uma cidade que tem tudo o que precisamos e vários lugares incríveis para visitar.
Quando não estão produzindo conteúdo, o que vocês costumam fazer no tempo livre?
Thaís: Eu gosto muito de consumir conteúdo de moda. Já fiz alguns cursos no Brasil e, de vez em quando, compartilho algo sobre looks no meu Instagram. Mas, no dia a dia, é algo mais pessoal, um hobby mesmo.
Vocês pretendem continuar no Japão por muito tempo?
Thaís: Sim, queremos aproveitar ao máximo essa oportunidade. Sabemos que nem todos conseguem vir para cá, então valorizamos muito o que temos. Claro, trabalhar em fábrica pode ser cansativo, mas enquanto estivermos com saúde e disposição, queremos continuar vivendo essa experiência.
Essa foi a entrevista com Thaís Sakai, uma brasileira que encontrou no Japão uma oportunidade de trabalho, um novo hobby e uma forma de se conectar com outras pessoas através da criação de conteúdo.
